Há 15 anos, Mark Zuckerberg criava a rede social que mudou a forma como interagimos na internet e como o mercado vende. Mas, envolta em escândalos, a rede social perde público.
Tente imaginar: como seria viver sem o botão curtir? Ou não ter notícias, fotos, vídeos todos organizados em uma linha do tempo com barra de rolagem infinita? E lembrar o aniversário de um amigo sem a notificação? Ou talvez falar com um amigo no mundo offline sobre o desejo por um produto específico, e não ser perseguido por dias por anúncios online daquele item? E amargar a dúvida se aquele paquera está solteiro ou não? Há 15 anos, quem bombava nas nossas interações na internet era o Orkut e bater-papo só no MSN ou mIRC, para os mais antigos. E nada disso era possível.
Em 4 de fevereiro de 2004, o Facebook era criado pelo então jovem de 20 anos Mark Zuckerberg e as mudanças que foram sendo feitas na rede social incluíram palavras ao nosso vocabulário, e transformaram também os modelos de negócios e a forma como interagimos. Os escândalos políticos, as brechas para o uso indevido de dados pessoais, e as bolhas ideológicas têm, no entanto, diminuído o brilho (e o lucro) do Facebook e afastado pessoas da rede social. Há, ainda, quem recomende o facebookcídio.
É o que sugere o professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), Riverson Rios. Para interação entre alunos de universidades diferentes, o professor chegou a recomendar a rede social, anos atrás. "Hoje, eu diria: faça um facebookcídio, saia dessa rede! Acho que a proposta inicial era muito boa, e mudou completamente. O modelo de negócios é baseado em invasão de privacidade para venda de anúncio e, agora se descobriu usos ainda piores. Acho que é um motivo enorme para você sair do Facebook", aponta.
Para a professora de Comunicação e Marketing Digital, Mariana Ruggeri, após o escândalo da Cambridge Analytica - com uso de dados para campanha de Donald Trump nos EUA -, a posterior desvalorização das ações, e o depoimento de cinco horas de Zuckerberg ao Senado norte americano, "(Mark) deverá incluir variáveis mais socialmente responsáveis em suas decisões" quanto aos rumos do Facebook.
Ainda assim, Rios considera o ambiente tóxico e "causador de dependência". Com o algoritmo do Facebook diminuindo os espaços para o contraditório, criaram-se as bolhas ideológicas. "Essas bolhas estão nos deixando cada vez mais intolerantes. Essa intolerância elimina o diálogo, reforça estereótipos, inviabiliza a empatia e nos impede de evoluir como comunidade e seres humanos. O diferente se torna o adversário ou inimigo, cuja ideia ou presença deve ser aniquilada. Nessas bolhas, os comportamentos violentos e agressivos são legitimados e vamos perdendo a sensibilidade", aponta Ruggeri.
Dentro da redoma, o ambiente é fértil para as notícias falsas. A professora acredita que a rede social é, sim, co-responsável pela "propagação de notícias falsas, polarizações, aumento do discurso de ódio". Recentemente, a empresa anunciou que irá retirar do ar, diminuir alcance e marcar as notícias que forem analisadas como falsas. Mas, para os especialistas, houve atraso na decisão.
Ainda assim, a rede social continua sendo uma das principais no mundo. Somada ao Instagram e Whatsapp, que também pertecem a Zuckerberg, ostenta 2,7 bilhões de usuários. Os mais jovens ou quem entrou há muito e ainda não substituiu o Facebook por outras redes, como observa Ruggeri, têm deixado de lado o uso constante da rede social, mantendo o perfil ativo, mas com interações esporádicas. Mas há quem tem o Facebook com o principal contato online.
"Há pesquisas que mostra que 55% dos brasileiros acreditam que o Facebook é a internet, porque só acessam a ele", indica Rios. Idosos que entraram tardiamente na rede social e pessoas que usam o Facebook para interação em grupos fechados, chatbots para realizar atendimento mais barato e até mesmo espaço para compra e venda estão entre o público da rede social, atualmente.
Se desligar da rede ainda é um passo difícil. "Não dá pra fugir. Por mais que a plataforma tenha dificultado bastante o alcance empresa cliente, ainda vale a pena e continua importante", indica Thalita Di Paula, analista de Marketing Digital.
"Facebook enquanto rede social deve ter atingido seu platô", é o que acredita Mariana Ruggeri. A empresa, no entanto, com receita anual de US$ 16,9 bilhões, segue forte. Detentor de outras redes sociais, especula-se que Facebook fará com que as plataformas passem a interagir - ainda mais - entre si.